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Doceiras do Serido Museu do Açúcar e Doce

O primeiro encontro de Doceiras do Seridó

A doçaria é uma atividade secular que está dentro das residências.

A economia do Seridó pode ser fomentada a partir desse patrimônio cultural”.

(Pedro Medeiros)

O Primeiro Encontro de Doceiras do Seridó realizado em Caicó/RN, entre os dias 27 e 28 de setembro último, pela JK Produções e Eventos, contou com a presença de setenta doceiras de doze municípios da região do Seridó. Com o intuito de divulgar o potencial do doce seridoense, patrimônio cultural alimentar da região, além de incrementar o turismo cultural, Diego Vale (diretor da JK Produções), reuniu produtores, artesãos e confeiteiros em torno do Largo da Catedral de Santana.

O projeto do evento foi contemplado no Edital de Economia Criativa 2019, do Sebrae/RN, além de reunir parceiros como o Município de Caicó, SENAC, e Sistema Comércio RN, SESI e FIERN, Fundação José Augusto, Governo do Estado, IFRN, Paróquia de Sant’Ana e Rede Seridó. Dentre as atividades, o evento contou com um concurso para eleger os melhores doces da região, oficinas de doces típicos, oficinas de receitas inovadoras, a feirinha de doces, produtores e artesanatos da região, a participação de pesquisadores, e o lançamento do livro “Comida da Terra: notas sobre o sistema alimentar do Seridó” de Julie Cavignac, Muirakytan K. de Macedo, Danyccele Silva e Maria Isabel Dantas.

Para explicar o Seridó, aproprio-me de um trecho da introdução do livro mencionado, Comida da Terra, em que os autores afirmam: “As fazendas de gado instaladas no Seridó foram os primeiros núcleos de colonização que deram origem às cidades contemporâneas, constituindo-se como microcosmos estruturados pelas demandas da economia e da sociedade colonial. Dado sua persistência no tempo, o modelo de sociabilidade construído a partir da convivência nas ‘casas de morada’ rural imprimiu marcas profundas na emergência de um ‘estilo seridoense’, formulado em termos de um exercício identitário que agencia a religiosidade, as festividades, a cultura material e as representações míticas e artísticas. Entre essas manifestações, a alimentação aparece como um bem cultural que tem significativa centralidade na reivindicação de uma identidade regional revigorada durante as celebrações de padroeiros, as festas de São João ou em julho, no período das colheitas, momentos em que a família se reúne para degustar as ‘comidas de raiz’; ocasião em que é experimentada uma volta às origens, momentos privilegiados para reencontrar sons, cheiros, gostos, emoções e sabores esquecidos”.

Na região do Seridó, encontramos doces singulares, entre eles o Chouriço que é um doce de sangue de porco com banha de porco, leite de coco, rapadura, farinha de mandioca castanha de caju e especiarias cozidos em um tacho por cerca de oito horas; o filhós que é um doce frito servido com mel de rapadura; o forrumbá que é um doce de bagaço de coco com rapadura; e o doce seco.

De acordo com Luís da Câmara Cascudo, os filhós aparecem “registrados no século XIV. Popularíssimos em Portugal. Doce do Carnaval. Filinto Elísio, exilado num Paris melancólico de 1808, lamentava-se, vendo o Carnaval francês: ‘Um dia de Comadres, sem filhoses!’ Servidos sob polvilho de açúcar. Nalguns pontos do Brasil obriga à calda de açúcar”.

A oficina de doce seco foi um dos momentos mais aguardados do evento, por tratar-se de um saber que está se perdendo. Esse é um tipo de pastel recheado com espécie. Não é assado, nem frito, apenas seca-se a massa à temperatura ambiente. A espécie é um doce de origem árabe, muito comum em doces portugueses mais antigos, como os fartes.

Câmara Cascudo descreve doce seco como “a casca é a farinha de mandioca, fina, feito angu, seca, com outra porção de farinha para abrir o ponto. A espécie, recheio, é feita de farinha de mandioca, sessada em peneira fina, gengibre, gergelim, castanha de caju, pimenta-do-reino, cravo, erva-doce, mel de rapadura. É um dos doces típicos na Noite de Festa, Dia do Natal, São João, São Pedro e Ano Novo”.

A doceira Betinha, moradora de Caicó, foi a responsável pela transmissão desse saber na oficina de doce seco. A massa é produzida com farinha e água que depois é bem trabalhada. Em seguida, faz-se bolas semelhantes às de ping-pong que são abertas com um rolo de massa. No centro da massa é colocada uma porção de espécie, e o pastel é fechado para, em seguida, ser pintado. Depois deve secar para ficar com uma textura firme.

Doceiras do Serido
Abrindo a massa para colocar o recheio

Doceiras do Serido
Doces secos prontos para serem decorados

Doceiras do Serido
Pintura do doce com corante alimentar

Doceiras do Serido
Doce seco finalizado

O Seridó possui um importante acervo virtual de seu patrimônio cultural do doce apresentando seus doceiros e doceiras, disponível em: http://docesdoserido.com.br/

Mais informações sobre o evento podem ser encontradas na página: https://web.facebook.com/doceirasdoserido/?_rdc=1&_rdr,

Vídeo: Doce Seridó está disponível no link: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=136072541105838&id=101129917933434&sfnsn=scwspmo&d=n&vh=e

por Lucia Soares


Referências:

CASCUDO, Luís da Câmara. Superstição no Brasil. Belo Horizonte/MG: Ed Itatiaia e São Paulo/SP: EDUSP 1985, pp. 218-223.

CAVIGNAC, Julie A. et al: Comida da Terra: notas sobre o sistema alimentar do Seridó. Natal: Sebo Vermelho, 2018, p.7.


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