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foto Jorge Sabino

Os doces de Cosme e Damião

Entre as muitas festas tradicionais e populares, e que se incluem nas celebrações religiosas de matriz africana interpretadas e abrasileiradas na afro-diáspora, está o ritual, seja familiar ou coletivo, dedicado aos Ibejis, divindades protetoras das famílias e das comunidades no âmbito das tradições ioruba.

Esses rituais religiosos se ampliam e começam a incorporar características regionais do Brasil, com isso se une o imaginário dos santos gêmeos da igreja católica, São Cosme e São Damião, com os Ibejis. Faz-se assim uma das maiores tradições da nossa religiosidade multicultural e multiétnica.

Para se viver as festas recorre-se sempre as comidas e as bebidas, porque as festas são também identificadas pelas comidas que são oferecidas e, desse modo, cria-se um grande acervo que está integrado ao nosso patrimônio alimentar.

E em setembro, na tradição religiosa dedicada aos Ibejis, que são os gêmeos protetores das famílias, das comunidades, os promotores da fertilidade e do nascimento de filhos, é celebrado com o um cardápio à base de inhame, feijão, azeite de dendê.

E no paralelismo religioso com os santos católicos, Cosme e Damião, são oferecidos doces e o prato chamado de caruru de quiabos; e ainda, há o caruru banquete, enquanto um cardápio que inclui além do caruru de quiabos, têm-se acarajé, abará, acaçá, feijão de azeite; vatapá, xinxim de galinha, rolete de cana, aluá, entre outros pratos.

No caso da afro-diáspora no Brasil, entende-se que aquilo que pertence ao mundo infantil está vinculando aos doces, muitos e diferentes tipos de doce; porque houve essa relação direta de que não há nada melhor para agradar uma criança do que algo doce.

Assim, misturam-se os doces artesanais, aqueles de receitas familiares e de identidades regionais aos doces industrializados, numa ampla e diversa oferta de uma doçaria representa a fé. A distribuição de doces passa a simbolizar o cumprimento de uma promessa, e uma celebração para os santos da igreja e para essas divindades infantis ioruba.

Alguns doces são marcantes nestas festas de devoção, tais como: cocadas, bolos, manjares; doces diversos de frutas, quindins, queijadas; pudins, tortas; bombons; entre tantos.

Nas casas, oferecer doces às crianças é como oferecer doces para São Cosme e São Damião, como se esses santos comecem pelas bocas das crianças. E nos terreiros de candomblé, nas festas dos Ibejis, seguindo a maioria, os cardápios tradicionais são feitos à base de azeite de dendê, destaque para o caruru de quiabos, também há o oferecimento de alguns tipos de doces, como cocadas.

Sabe-se, ainda, que todas essas celebrações religiosas, especialmente as familiares, onde se concentram as principais devoções a São Cosme e São Damião, são abertas e sensíveis há diferentes interpretações pessoais, estilos autorais de celebrar estes santos; e com isso se cria um amplo e rico acervo de repertórios devocionais que são representados pela variedade e pela diversidade da doçaria brasileira.

 

RAUL LODY

Destaque do mês - Museu do Açúcar e Doce

Tem doce no altar de Cosme e Damião

Quiabo, dendê e muitos doces formam a base ritual para as comidas dos santos Cosme e Damião, também interpretados no sincretismo como os Ibejis, gêmeos nas tradições da cultura ioruba. Assim, unem-se os cultos religiosos dos santos da Igreja com os ancestrais divinizados dos ioruba, que trazem um sentido de fertilidade, de nascimento, de vida e de ancestralidade.