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vinho de caju - Museu do Açúcar e Doce

O doce vinho de caju

Há um olhar dominante para o vinho como uma bebida feita apenas a partir de diferentes tipos de castas de uvas. Contudo, ocorrem nas nossas tradições gastronómicas outros tipos de bebidas chamadas de vinhos, que são também feitos de frutas, porém muitas delas frutas de terroir brasileiro. E, entre elas, quero destacar o caju, essa fruta tropical da nossa Mata Atlântica.

Espumante de caju harmonizado com bolo de tapioca. Foto Eduardo Gazal. Museu do Açúcar e Doce

Cores e sabores do Nordeste – Espumante de caju e Macassá

As fotos desta coleção retratam a junção de vegetais conhecidos no Brasil, que proporcionaram imagens inéditas e belas. Conheci o espumante de caju, Cauina, em evento realizado no Espaço Jardim do Cajueiro, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, Pernambuco.

A Cauina é um espumante produzido à base de caju orgânico, não é filtrado, possui 10% de teor alcoólico e uma refrescância que encontramos nos espumantes produzidos a partir das uvas. Apresenta uma acidez moderada. O caju, usado como base inicial da bebida, confere um aroma que nos remete aos ambientes tropicais.

O criador da Cauina, Vicente Monteiro, contou que estuda temas relacionados às bebidas ancestrais e se considera uma pessoa que cozinha bebidas. O nome do espumante de caju, Cauina, surgiu da junção de “cauin” (origem nas Cauinagens indígenas) com a “cajuína”, bebida não alcoólica das regiões Nordeste e Meio-Norte do Brasil.

No mesmo encontro, conheci também uma espécie vegetal denominada “macassá”, que foi utilizada para saborizar e colorir um bolo de tapioca, tradicional na doçaria de Pernambuco.

A utilização das folhas de macassá está ligada aos banhos que utilizam ervas e, nesta preparação gastronômica, conferiram uma coloração verde ao tradicional bolo de tapioca, sempre branco. Uma novidade que foi introduzida pela chefe Bárbara em sua culinária afetiva/sensorial, marca registrada do quintal bristrô Jardim do Cajueiro.

Macassá

Nome científico: Aeollanthus heliotropioides Oliv.

Nomes populares: Macassá, catinga-de-mulata, taia, chegadinha, manjericão-miúdo, água-de-colônia, cheiro do mundo, lotuko (Uganda), Yorubá: Makasà.

Origem ou Habitat: África tropical (Nigéria, Sudão do Sul, Quênia, norte da África do Sul). Naturalizada na América do Sul (Brasil).

Partes usadas: Folhas, flores.

Uso popular: É utilizada em rituais mágicos e curativos, na forma de banhos e maceradas com outras ervas aromáticas. O chá ou sumo das folhas é usado contra a febre, dor de cabeça e princípio de derrame. Em Uganda, o chá das raízes é usado contra diarreia e tripanossomíase.

Ações farmacológicas: O óleo essencial possui alegada atividade antimicrobiana.

Observações: Macassá é uma erva de origem africana introduzida na cultura brasileira durante o processo de colonização. As lactonas muito perfumadas, lactona massoia e δ-decalactona, podem ser facilmente extraídas para fins de perfumaria.

Fonte de consulta: Macassá: Horto didático de plantas medicinais do HU/CCS (Universidade Federal de Santa Catarina).

Dicionário

Sobre o Caju está escrito o seguinte relato, que resgatamos do Dicionário do Folclore Brasileiro de Luís da Câmara Cascudo:

Caju. (Anacardium occidentale L.) É a mais popular das frutas brasileiras, no Norte e Nordeste, ao alcance dos pobres, com o prestígio do tradicionalismo nos variados usos. Como sua frutificação coincide com o final do ano e início do outro, acaiú significa o ano para o indígena de raça tupi. Guardavam a castanha de cada colheita, valendo uma o tempo hoje correspondente aos doze meses. O pedúnculo carnudo e sumarento dá o vinho e o vinagre, a castanha é gulodice secular.

Texto e Fotos de Eduardo Gazal
eduardogazal@gmail.com

Caju e seus doces sabores

O cajueiro Anarcadiáceas,, apresenta-se com quinhentas espécies conhecidas, entre elas a Anarcadium Occidentale L., considerada como uma árvore quase sagrada no Brasil, na Mata Atlântica do Nordeste. Muitos dizem que o caju é a fruta mais brasileira de todas.

Além do consumo da fruta in natura há muitos outros aproveitamentos na culinária enquanto doce, vinho, castanha assada, na receita de bolos como o pé-de-moleque, um bolo que integra a mesa festiva do ciclo junino.

Além das formas doces: em calda, como passa destacando o açúcar da fruta, a tão celebrada passa de caju, está ainda em pratos salgados, destacando-se a famosa moqueca de maturi.

As bebidas feitas de caju também ampliam possibilidades gastronômicas e comerciais como a conhecida cajuada – suco de caju, ou na maneira industrial a cajuína e o vinho de caju, além do licor e outras criações no artesanato culinário da fruta.

 

cajueiro Museu do Açúcar e Doce
Cajueiro, pintura de Albert Eckhout, século XVII, Museu Nacional da Dinamarca, na foto by Jorge Sabino

 

Como um exemplo de doce tradicional, trago o doce de caju à moda de Pernambuco

“Escolhem-se cajus, que não estejam muito maduros, e que sejam sem mácula, e que devem ser descascados com uma casca de marisco, de modo que se tire toda a pele, e os talos, para que o doce não fique preto; piquem-se com um palito, extraindo-se metade do sumo, depois desta operação fervam-se em calda, e logo que tenham fervido, retire-se todo o doce do fogo e feixe repousar até o dia seguinte, a fim de ficar a fruta bem repassada na calda. Depois torna a voltar tudo ao fogo, para tomar o competente ponto. Retira-se, e guarde-se em vasilhas.” (Açúcar, Gilberto Freyre)

Raul Lody

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