Autor: MuseuAcuDoc

Bolo Rei - Museu do Açúcar e Doce - foto Eduardo Gazal

Bolo Rei de Pernambuco

Fotos e Texto por Eduardo Gazal

Entramos no período natalino e o Bolo Rei começa a aparecer nas vitrines das padarias.
Sempre belo e colorido, rivalizando com seu primo europeu, o Panetone, o Bolo Rei ou Rosca de Reis, divide as preferências dos paladares dos brasileiros. Derivado de algumas criações gastronômicas do velho continente, o Bolo Rei que conhecemos é uma inspiração da confeitaria portuguesa, que marca presença na doçaria de todo país.

 

Bolo Rei - Museu do Açúcar e Doce - foto Eduardo Gazal

 

Mas é um bolo, um pão doce?

Certamente sua composição e textura nos remete imediatamente aos pães doces elaborados com massas artesanais que recebem oleaginosas em sua composição.

Belamente ornamentado com raspas de frutas cítricas cristalizadas, figos em passa, castanhas variadas e cerejas, recebe uma porção finíssima de açúcar para realçar sua aparência, nos convidando para uma sensacional mistura de sabores.

Mas como sua história é rica em detalhes, vamos então acrescentar um trecho do livro “Doce Pernambuco”, de autoria do antropólogo e escritor Raul Lody, que dedica em sua publicação um capítulo ao bolo, denominado Rosca de Reis. Lody nos conta algumas particularidades deste símbolo natalino e como é conhecido por povos de diversos países e civilizações:

“Gallete des Roi para os franceses, Roscón de Reys para os espanhóis, Bolo-Rei para os portugueses e Rosca de Reis para os brasileiros, esse pão em forma de rosca recebe ingredientes diferentes de acordo com o lugar, como massa folhada e recheio de creme de amêndoas com rum na França; vinho do Porto tinto em Portugal; água de flor de laranjeira na Espanha; e nos países de língua hispânica, como Argentina, usa-se também mel nas receitas. Sua decoração com frutas glaceadas e/ou cristalizadas remetem às joias que são incrustadas nas coroas dos Reis, o que reforça, dessa maneira, que a Rosca de Reis assume um verdadeiro significado valioso, de um presente precioso”.

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Doce Pernambuco - Museu do Açúcar e Doce - Raul Lody

Bem casado - Museu do Açúcar e Doce

“Bem-casado”: Símbolos e histórias

A Argélia é famosa pela delicadeza de seus doces, é essa herança culinária chegou também até nós através da cultura Magrebe, que se difundiu através da expansão do Islã pelo mundo Ibérico, e daí chegou nas Américas.

Entretanto, um outro exemplo dessa presença Magrebe na nossa doçaria, em técnica, estilos e sabores, é a semelhança do “bem-casado” brasileiro com os doces argelinos ftiyrat, além do gâteau sablé fondant à la confiture.

Bolo de Tapioca Pernambucano - Museu do Açúcar e Doce

Bolo de Tapioca de Pernambuco

Texto e Fotos por Eduardo Gazal

 

Entre os bolos da doçaria pernambucana, o bolo de tapioca é o que apresenta uma textura totalmente diferenciada.

Ao olhar, notamos pequenos gominhos e, na boca, a sensação gustativa nos remete aos docinhos conhecidos como balas de goma.

O sabor não é muito adocicado, é uma surpresa em relação aos outros bolos de Pernambuco. Acredito que esta receita foi elaborada devido às misturas de saberes dos ameríndios sul-americanos da costa do Oceano Atlântico com os nativos da África que vieram para o Brasil.

Não enxergo neste bolo a tradicional doçaria portuguesa.

Como geralmente as receitas desta iguaria recebem o coco ralado fresco, ao final da degustação, nosso paladar é dominado pelas nuances de sabor do coco, sem dúvida uma combinação muito interessante.

O bolo de tapioca não é muito conhecido, aparece nas padarias mais tradicionais, em algumas ocasiões.

 

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INTOLERÂNCIA AO GLÚTEN

Para as pessoas que necessitam de uma dieta com restrições ao glúten, esta receita pode ser adicionada ao cardápio.

Os ingredientes básicos são a goma de tapioca fresca, o coco ralado, o leite, o açúcar e uma pitada de sal.

Algumas receitas mais modernas utilizam o leite condensado e, neste caso, o sabor do bolo sofre uma interferência mais adocicada.

Atualmente, a goma de tapioca aparece em várias regiões do Brasil e substitui a farinha de trigo em diversas preparações.

 

Eduardo Gazal: eduardogazal@gmail.com

Destaque do mês - Museu do Açúcar e Doce

Tem doce no altar de Cosme e Damião

Quiabo, dendê e muitos doces formam a base ritual para as comidas dos santos Cosme e Damião, também interpretados no sincretismo como os Ibejis, gêmeos nas tradições da cultura ioruba. Assim, unem-se os cultos religiosos dos santos da Igreja com os ancestrais divinizados dos ioruba, que trazem um sentido de fertilidade, de nascimento, de vida e de ancestralidade.

doce árabe - Museu do Açúcar e Doce

Doces Árabes na cidade de São Paulo

Na minha família fazíamos muitas receitas para o cardápio semanal, porém, os doces árabes e sírios como conhecemos na cidade de São Paulo faziam parte das especialidades que eram compradas nos fins de semana. Os locais preferidos eram os estabelecimentos especializados que se localizavam em torno da Rua 25 de Março, do Mercadão da Cantareira (conhecido como Mercado Municipal de São Paulo) e nos bairros da Moóca e Tatuapé. Tinham também outros endereços, principalmente na região central da cidade.

Um fator, entretanto, era comum em todas as ocasiões: a forma como os docinhos eram apresentados, sempre exibidos em vitrines ou balcões exclusivos. Resultado: A bandeja de docinhos para viagem era indispensável.

Considerados muito doces para o paladar brasileiro, os doces árabes causam duas sensações diferentes: as pessoas adoram ou não gostam. Geralmente não existe meio termo.

rapadura - Museu do Açúcar e Doce

É doce mas é dura, é a boa rapadura

A rapadura é um alimento cada vez mais usada para adoçar, para integrar receitas, para interpretações gastronômicas contemporâneas. Destaque-se o valor nutricional no seu consumo, o doce-duro e emblemático, cujo sabor é conquistado através de complexos processos artesanais.

As rapaduras chegam, na sua maioria, dos engenhos domésticos e familiares. O caminho de se fazer o açúcar é longo, e exige, além do bom caldo, os conhecimentos adquiridos, durante gerações, nas experiências de purgar, purificar o caldo no fogo profundo, que os Mestres de rapadura sabem só de olhar, no cheiro; e na prova que vai conquistar a qualidade ideal, como uma assinatura, uma marca autoral.

Bolo Barra Branca de Pernambuco - Museu do Açúcar e Doce

Bolo Barra Branca de Pernambuco

O Bolo Barra Branca se enquadra na categoria dos bolos populares, produzido principalmente em uma região geográfica denominada Agreste Central de Pernambuco.

Encontramos a iguaria em mercados públicos, lanchonetes das estradas do interior do Estado e, principalmente, nas fábricas de bolo da cidade de Bezerros, situada na rodovia BR-232, distante 100 Km da capital, Recife. O município de Bezerros, desde 2013, ostenta o Título de Capital dos Bolos e Doces de Pernambuco, através da Lei Estadual Nº 15125. É o bolo dos viajantes e turistas de várias regiões do Brasil que atravessam o Estado de Pernambuco. Também é encontrado nas merendas dos nordestinos, pois tem custo relativamente baixo em comparação a outros bolos da região.

Um doce de dendê - Museu do Açúcar e Doce

Um doce de dendê

Sem dúvida, o imaginário do dendê, digo no seu mais suculento azeite, o da flor, está no vatapá, no acarajé, e em tantos outros saborosos quitutes da mesa baiana de matriz africana.

O reconhecimento do dendê está no Recôncavo da Bahia, onde se situa a cidade do São Salvador. Contudo, na região amazônica encontra-se uma rica culinária de dendê, como o vatapá e o caruru feitos no Pará. Ainda, no Nordeste, em Pernambuco, há um tradicional vatapá cuja base é o amendoim e, certamente, dendê, como também nos pequenos acarajés do Recife, vendidos nas ruas da cidade.

O dendê marca muitas receitas sagradas onde se encontram as moquecas, o efó, o abará, o feijão-de-azeite, o amalá, entre tantos outros. Entretanto, nesse diverso acervo culinário africano vê-se um doce, um doce de dendê.

Um doce de dendê - Museu do Açúcar e Doce
Foto de Jorge Sabino

Dendê doce? Sim.

Esse é o continente africano que mostra ao mundo um sentimento de criação permanente, de fonte estética que nós do ocidente sempre estamos bebendo e, certamente, também comendo. Falo de um prato angolano chamado dendéns em calda que é feito da seguinte forma: 1 Kg dos frutos do dendezeiro, cocos, 1 Kg de açúcar, uma colher de erva-doce e casca de um limão. Lavam-se bem os frutos que na sequência são pilados. Em um tacho, coloca-se a casca do limão e dissolve-se o açúcar e a erva doce na água, fazendo uma calda que é posta sobre os furtos. Serve-se frio.

São, também, outros doces angolanos: máhime huambo _ feito de farinha de milho, leite e açúcar. Quifutila _ feito de jindungo (amendoim), farinha de mandioca, açúcar e canela. Bananas assadas _ feito com banana, manteiga, canela e mel. Une-se o dendê africano ao açúcar para mostrar novos gostos, especialmente para nós que somos assumidamente bons comedores de dendê.

RAUL LODY

Pão-de-Ló-de-Ovar Museu do Açúcar e Doce Foto de Eduardo Gazal

Pão de Ló de Ovar

Texto e Fotos de Eduardo Gazal

 

Conheci esta iguaria portuguesa no Recife, em um momento em que estava pesquisando sobre o Pão de Ló como conhecemos no Brasil. Não sabia da existência deste doce na versão que leva a designação de “Ovar”, até encontrar o proprietário da Padaria Augusta, localizada no Recife, o português Paulo Coelho.

Em nossa conversa inicial, Paulo me apresentou o Pão de Ló de Ovar e relembrou momentos de sua infância; sua memória afetiva se aflorou e nos remeteu à forma de saborear o doce, utilizando colher em vez de garfo e faca; além de harmonizações possíveis para esta iguaria portuguesa.

O Pão de Ló de Ovar pode ser o responsável pela finalização de um almoço ou jantar, sendo que para escoltá-lo, o Vinho do Porto será sempre um grande companheiro. Também poderá ser acompanhado de queijos. Paulo se recorda do Queijo da Serra de sua terra natal.

Realmente, o Pão de Ló de Ovar é muito diferenciado dos inúmeros pães de ló que já experimentei. Sua textura é úmida, com uma cobertura dourada e um pouco crocante. O sabor lembra os tarecos e cavaquinhas portuguesas. Não apresenta uma doçura extrema e pode receber acompanhamentos, pelo menos aqui no Brasil, de doce de leite ou geleias variadas.

Com estas variações, torna-se um excelente item no café da manhã ou lanche vespertino.

 

 

Saiba Mais

Incluímos nesta publicação o “Caderno de Especificações do Pão de Ló de Ovar” com seu registro de Indicação Geográfica Protegida (IGP).
Documento assinado pela APPO – ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DE PÃO DE LÓ OVAR, em Portugal, datado de Maio de 2012.

Abaixo reproduzimos os temas abordados no documento e um link direto para conhecer a complexidade do processo de registro da iguaria portuguesa.

Conheça alguns itens necessários ao registro de IGP, como método de preparo e serviço de embalagem:

  • Nome do Produto;
    Descrição e definição do Produto;
    Características das Matérias primas;
    Características Físicas e Sensoriais;
    Características Químicas e Microbiológicas;
    Delimitação da Área Geográfica;
    Área Geográfica de Produção de Matéria Prima;
    Área Geográfica de Fabrico e acondicionamento do Produto;
    Garantia sobre a Origem Geográfica do Produto;
    Modo de Produção;
    Apresentação do Produto;
    Acondicionamento do produto;
    Comercialização do Produto;
    Elementos específicos da rotulagem relacionados com a Indicação Geográfica;
    Marca de Certificação;
    Rotulagem obrigatória em todas as formas de apresentação;
    Elementos que provam a ligação com o Meio Geográfico;
    Enquadramento geográfico;
    Aspectos históricos e sociológicos do Produto.

Para conhecer, guardar e estudar:

Link direto: “Caderno de Especificações do Pão de Ló de Ovar”

 

 

Fotos – Eduardo Gazal
* Pão de Ló de Ovar produzido na Padaria Augusta, Recife, Pernambuco, Brasil

açucareiro Museu do Açúcar e Doce

Açucareiro

Os objetos da cozinha e do serviço à mesa têm muitas histórias que se integram aos ingredientes e aos ciclos civilizatórios, como do trigo, do milho, das especiarias do Oriente; e do açúcar, entre outros.

E assim, as formas, os usos, e, as funções de utensílios como pratos circulares, garfos, copos, jarros, garrafas, travessas, constituem acervos materiais que possibilitam conhecer as histórias do comer e do beber, nos muitos e diversos rituais de comensalidade.

Com o ciclo do açúcar nasce um utensílio que marca este ingrediente, o açucareiro, um objeto que celebra o sabor doce nas comidas e nas bebidas.

Açucareiro, utensílio para guardar e para servir o açúcar. São muitas e variadas as formas; e os materiais com os quais são feitos os açucareiros: prata, louça, barro, plástico, metal; de materiais especiais como a porcelana “borrão” de Macau, China; entre outas procedências relacionadas a nobreza do serviço, como a inglesa, a portuguesa com a tradição da fábrica Vista Alegre; ainda, os de cristal Murano, Veneza.

Destaque para o caso de um açucareiro feito com ouro, rubis, brilhantes e safiras, que foi confeccionado na antiga Birmânia, atual Myanmar (Ásia), do acervo do Museu do Homem do Nordeste, Recife.

açucareiro Museu do Açúcar e Doce
Foto Jorge Sabino

Dentro dessa diversidade, cada açucareiro traz um significado histórico, seja pela técnica, pelo material, pela estética; ou pela simbolização do poder econômico. Também o açucareiro marca o consumo do açúcar pela nobreza, a partir do século XVI.

O primeiro registro de um açucareiro ocorreu em 1507 em Portugal. Já no século XVII, na Europa integra-se o uso dos açucareiros, especialmente pela nobreza e pelo clero, em virtude da formação dos hábitos de se beber café, chocolate e chá.

E assim, organizaram-se os serviços de chá e de café formados com açucareiro, leiteira, bule, manteigueira, cremeira e xícaras.

RAUL LODY